Argilominerais da Formação Codó (Aptiano Superior), Bacia de Grajaú, nordeste do Brasil

Autores/as

  • Daniele Freitas Gonçalves Universidade Federal do Pará- Centro de Geociências CPGG/ UFPA, Av. Bernardo Sayão S/N Guamá C. P. 1611, 66075-110, Belém-PA
  • Dilce de Fátima Rossetti Rossetti INPE, Rua dos Astronautas 1758-CP 515, 12245-970 São José dos Campos-SP
  • Werner Truckenbrodt Universidade Federal do Pará- Centro de Geociências CPGG/ UFPA, Av. Bernardo Sayão S/N Guamá C. P. 1611, 66075-110, Belém-PA
  • Anderson Conceição Mendes Universidade Federal do Pará- Centro de Geociências CPGG/ UFPA, Av. Bernardo Sayão S/N Guamá C. P. 1611, 66075-110, Belém-PA

Palabras clave:

Paleoclima; Paleoambiente; argilominerais; Neoaptiano; Nordeste do Brasil

Resumen

A Formação Codó, exposta no leste e sul da Bacia de Grajaú, consiste em sistemas deposicionais dos tipos lacustre e sabkha-salt pan, respectivamente, cujos depósitos incluem evaporito, folhelho negro betuminoso, folhelho cinza-esverdeado e calcário organizados em ciclos de arrasamento ascendente. Neste trabalho, foram realizadas análises de difração de raios-X, microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura em rochas predominantemente argilosas desta unidade, objetivando a caracterização da assembléia de argilominerais e o registro de sua variabilidade vertical ao longo dos ciclos deposicionais, a fim de discutir sua origem e verificar sua aplicabilidade como indicadores paleoclimático e paleoambiental. Os resultados indicam uma assembléia de argilominerais dominada por esmectita, seguida por ilita, caulinita e interestratificados irregulares ilita/esmectita. A esmectita é, em sua maioria, detrítica e caracterizada por palhetas crenuladas e/ou esgarçadas dispostas em arranjo paralelo ou caótico, sendo dominantes na porção inferior dos ciclos deposicionais. Quando pura, a esmectita mostra cristalinidade boa, tendo sido classificada como dioctaédrica e pertencente à espécie montmorillonita. Para o topo dos ciclos de arrasamento ascendente, ocorre aumento relativo de caulinita e ilita, estas com hábitos que revelam, pelo menos em parte, contribuição autigênica.

A constatação de origem detrítica para o maior volume de argilominerais presentes nos depósitos estudados tornou possível sua utilização com propósitos de interpretação paleoambiental e paleoclimática. De forma geral, o domínio de esmectitas detríticas revela deposição a partir de suspensões em praticamente toda a extensão do sistema deposicional, sendo condizente com ambientes calmos, típicos de sistemas lacustres e complexos de sabkha-salt pan, como proposto para as áreas de estudo através de dados faciológicos. O domínio de argilas revela bacia com topografia, no geral, plana, sendo a espécie montmorillonita típica de áreas continentais. Além disto, mesmo tendo sido constatada origem autigênica para a caulinita e ilita, a coincidência sistemática de suas maiores ocorrências com o topo dos ciclos de arrasamento ascendente, sugere formação condicionada a mudanças paleoambientais específicas. Assim, propõe-se um modelo onde esmectitas detríticas teriam sido introduzidas em grande volume para áreas deprimidas durante períodos de nível de base elevado. À medida que o influxo e, conseqüentemente, o nível de base diminuiu, reduzindo a lâmina d´água, houve alternância de sedimentação clástica e química sob condições alternadamente subaquosas e subaéreas. A formação de caulinita e ilita como produto de substituição da esmectita detrítica pode ter ocorrido por influência de freqüentes exposições subaéreas e pedogênese. Estudos futuros são ainda necessários para melhor entender a origem destes minerais autigênicos. Porém, a ocorrência de ambos minerais em mesmo horizonte estratigráfico associado com fácies lacustres marginais do topo dos ciclos de arrasamento ascendente da área de estudo sugere possível influência climática. Desta forma, a formação da ilita ocorreria sob condições de maior evaporação (períodos mais secos), enquanto que a caulinita teria se formado sob condições de maior lixiviação por águas freáticas com pH baixo (períodos mais úmidos). O domínio de esmectita detrítica do tipo montmorillonita é condizente com condições de lixiviação e intemperismo intermediários em solos temperados com boa drenagem e pH neutro ou solos pobremente drenados e alcalinos de zonas áridas. Estas características, aliadas à vasta ocorrência de evaporitos na região estudada, confirmam tendência de clima quente e semi-árido durante o Neoaptiano da Bacia de Grajaú.

Citas

Aranha, L.G., H.P. Lima, R.K.Makino, e J.M. Souza, 1990. Origem e evolução das bacias de Bragança-Viseu, S. Luis e Ilha Nova. In E.J. MILANI & G.P. RAJA GABAGLIA (Eds.), Origem e evolução das bacias sedimentares. PETROBRÁS, p. 221-234, Rio de Janeiro.

Banfield, J. F., B.F. Jones e D.R. Veblin, 1991. An AEM-TEM study of weathering and diagenesis, Albert Lake, Oregon: II. Diagenetic modification of the sedimentary assemblage. Geochim. Cosmochim. Acta 55:2795-2810.

Batista, A. M., 1992. Caracterização paleoambiental dos sedimentos Codó-Grajaú, Bacia de São Luís (MA). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pará, Centro de Geociências, 102pp.

Biscaye, P. E., 1965. Mineralogy and Sedimentation of Recent Deep-Sea Clay in the Atlantic Ocean and Adjacent Seas and Oceans. Geological Society of America Bulletin, 76:803-832.

Caroll, D., 1970. Clay minerals in Artic Ocean sea-floor sediments. Journal of Sedimentary Petrology, 40:814-821.

Chamley, H., 1989. Clay Sedimentology. Spriger-Verlag, Berlin, 623 pp.

Cordani, U.G., B.B. Brito Neves, R.A. Fuck, R. Porto, A. Thomaz Filho e F.M.B. Cunha, 1984. Estudo preliminar de integração do Pré-Cambriano com eventos tectônicos das bacias sedimentares. Ciência, Técnica, Petróleo, Seção de Exploração do Petróleo, 15:20-27.

Curtis, C.D., 1985. Clay mineral precipitation and transformation during burial diagenesis. Philos, 315:91-105.

Fernandes, G. e H. Della Piazza, 1978. O Potencial Oleogenítico da Formação Codó. Boletim Técnico da Petrobrás, 21:3-16.

Gill, S. e K. Yemane, 1999. Illitization in a Paleozoic, peat-forming enviroment as evidence for biogenic potassium accumulation. Earth and Planetary Science Letters, 170:327-334.

Góes, A.M., 1995. A Formação Poti (Carbonífero Inferior) da Bacia do Parnaíba. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências, 171 pp.

Góes, A.M. e D.F. Rossetti, 2001. Gênese da Bacia de São Luís-Grajaú, Meio-Norte do Brasil. In: D.F. Rossetti, A.M. Góes, W. Truckenbrodt (Eds.), O Cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Museu Paraense Emílio Goeldi(Coleção Friedrich Katzer), Belém, p. 15-30.

Hower, J., E.V. Eslinger, M.E. Hower e E.A. Perry, 1976. Mechanisms of burial metamorphism of argillaceous sediment: 1. Mineralogical and chemical evidence. Geological Society of American Bulletin, 87:725-737.

Iman, M.B. e H.F. Shaw, 1985. The diagenesis of Neogene clastic sediments from the Bengal Basins Bangladesh. Journal of Sedimentary Petrology, 55:665-671.

Jennings, S. e G.R. Thompson, 1986. Diagenesis of Plio-Pleistocene sediments of the Colorado River Delta, southern California. Journal Of Sedimentary Petrology, 56:89-98.

Jones, B.F. e A. Weir, 1983. Clay Minerals of Lake Albert, an alkaline, saline lake. Clay and Clay Minerals, 31:161-172.

Kegel, W., 1965. A estrutura geológica do nordeste do Brasil. Boletim Divisão de Geologia e Mineralogia, 227:1-47.

Lima, E.A. e J.F. Leite, 1978. Projeto estudo global dos recursos minerais da Bacia Sedimentar do Parnaíba. Integração geológicametalogenética. Relatório Interno DNPM/CPRM, Recife, 437 pp.

Lima, M.R., 1982. Palinologia da Formação Codó, Maranhão. Boletim do Instituto de Geociências da USP, 13:223-228.

Lima, M.R., V.J. Fúlfaro e A. Bartorelli, 1980. Análise Palinológica de sedimentos cretáceos da região de Marabá, estado do Pará. Boletim do Instituto de Geociências da USP, 11:155-161.

Mesner, J.C. e L.C. Wooldridge, 1964. Maranhão Paleozoic Basin and Cretaceous Coastal Basins, north Brazil. Bulletim of American Association of Petroleum Geologists, 48:1475-1512.

Millot, G., 1970. Geology of Clays. Springer-Verlag, Paris, 425 pp.

Moore, D.M. e R.C. Reynolds Jr., 1997. X-Ray Diffraction and the Identification and Analysis of Clay Minerals. Oxford University Press, New York, 378 pp.

Mora, C.A., B.T. Sheldon, W.C. Elliott e S.G. Driese, 1998. An oxygen isotope study of illite and calcite in three Appalachian Paleozoic vertic paleosols. Journal of Sedimentary Research, 68:456-464.

O'Brien, N.R e R. M. Slatt, 1990. Argillaceous Rock Atlas. Springer-Verlag, New York, 141 pp.

Parham, W.E., 1963. Lateral variations in certain Pennsylvania underclays. Clays and Clay Minerals, 12:581-612.

Parry, W.T e C.C. Reeves, 1968. Clay mineralogy of pluvial lake sediments, Southern High Plain, Texas. Journal of Sedimentary Petrology, 38:516-529.

Paz, J.D.S., 2000. Análise faciológica da Formação Codó (Aptiano Superior na região de Codó (MA), Leste da Bacia do Grajaú. Belém. Dissertação de Mestrado Universidade Federal do Pará, Centro de Geociências, 146 pp.

Paz, J.D.S. e D.F. Rossetti, 2001. Reconstrução paleoambiental da Formação Codó (Aptiano), borda leste da Bacia do Grajaú, MA. In: D.F. Rossetti, A.M. Góes, W. Truckenbrodt (Eds.), O Cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Museu Paraense Emílio Goeldi(Coleção Friedrich Katzer), Belém, p. 77-100.

Paz, J.D.S. e D.F. Rossetti, 2005a. Tectonically-Driven Lacustrine Cycles: An Example From The Codó Formation (Late Aptian), Northeastern Brazil. Geological Magazine (no prelo).

Paz, J.D.S. e D.F. Rossetti, 2005b. A Late Aptian saline pan/lake system from the Brazilian Equatorial Margin: integration of facies and isotopes. Sedimentology (no prelo)

Pinto, I.D. e L.P. Ornellas, 1974. New Cretaceous Hemiptera (Insects) from Codó Formation, northern Brazil. 28 Congresso Brasileiro De Geologia Anais 2:289-304. Porto Alegre.

Plaquet, H. e N. Clauer, 1997. Soils and Sediments, Mineralogy and Geochemistry. Springer-Verlag, New York, 369 pp.

Rodrigues, T.L.N., C.A.C. Favila, E. Canizzato e L.S. Veríssimo, 1994. Programa de levantamentos Geológicos Básicos do Brasil. Programa Grande Carajás. Folha SB-23-X-A (BACABAL). C.P.R.M., 124 pp.

Rossetti, D.F., 1996. Sequence Stratigraphic Significance of two Estuarine Valley fills: the Upper Itapecuru Formation in the São Luís Basin, Northern Brazil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Ciências da Terra, 19:111-125.

Rossetti, D.F., 1998. Facies Architeture and sequential evolution of incised valley estuarine fills: The Upper Itapecuru Formation (São Luís Basin), northern Brazil. Journal of Sedimentary Research, 68:299-310.

Rossetti, D.F., 2000. Influence of low amplitude/high frequency relative sea-level changes in a wave-dominated estuary (Miocene), São Luís Basin, northern Brazil. Sedimentary Geology, 133:295-324.

Rossetti, D.F., 2001. Arquitetura deposicional da Bacia de São Luís-Grajaú. In: D.F. Rossetti, A.M. Góes, W. Truckenbrodt (Eds.), O Cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Friedrich Katzer), Belém, p. 31-46.

Rossetti, D.F., 2004. Paleosurfaces from Northeastern Amazonia as a key for reconstructing paleolandscapes and understanding weathering products. Sedimentary Geology, 169:151-174.

Rossetti, D.F. e W. Truckenbrodt, 1997. Classificação estratigráfica para o Albiano-Terciário Inferior (?) na Bacia de São Luís, MA. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi-Série Ciências da Terra, 9:31-43.

Rossetti, D.F., A.M. Góes e W. Truckenbrodt, 2001. O Cretáceo na Bacia de São Luís-Grajaú. Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Friedrich Katzer), Belém, 264 pp.

Rossetti, D.F., J.D.S. Paz e A. M. Góes, 2004. Facies Analysis of the Codó Formation (Late Aptian) in the Grajaú area, Southern São Luis-Grajaú Basin. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 76:791-806.

Singer, A., 1984. The paleoclimatic interpretation of clay minerals in sediments-a review. Earth Science Reviews, 21:251-293.

Singer, A. e G. Muller, 1983. Diagenesis in argillaceous sediments. In: G. Larsen & G.V. Chilingar (Eds.) Diagenesis in sediments and sedimentary rocks 2. Elsevier, Amsterdam, p.115-212.

Singer, A. e P. Stoffers, 1980. Clay mineral diagenesis in two East African Lake sediments. Clay Minerals, 15:291-307.

Tucker, M.E., 1991. Sedimentary Petrology. Blacwell Scientific Publications, Oxford, 260 pp.

Weaver, C.E., 1989. Clays, Muds and Shales. Elsevier, Amsterdam, 819 pp.

Descargas

Publicado

2021-03-31

Cómo citar

Freitas Gonçalves, D. ., Rossetti, D. de F. R., Truckenbrodt, W. ., & Mendes, A. C. . (2021). Argilominerais da Formação Codó (Aptiano Superior), Bacia de Grajaú, nordeste do Brasil. Latin American Journal of Sedimentology and Basin Analysis, 14(2), 59-75. Recuperado a partir de https://lajsba.sedimentologia.org.ar/index.php/lajsba/article/view/86

Número

Sección

Trabajos de investigación